PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO
Também chamado de período helênico da religião judaica.
Diversas idéias e atitudes surgiram no judaísmo do período intertestamentário
que influenciaram profundamente a era apostólica, isto é, Jesus, os apóstolos e
os escritores do Novo Testamento.
A idéia de Deus.
Deus se torna cada vez
mais transcendental e, por isso mesmo, mais universal. Qualquer deus que se torne
absolutamente transcendental e absolutamente universal tem de perder inúmeros
traços concretos que os deuses das nações possuem. Por essa razão começaram
a ser usados nomes capazes de preservar certa medida de concretitude da
divindade, como o “céu”. Um exemplo disso no Novo Testamento é o uso do termo
“reino dos céus” em lugar de “reino de Deus”.
Essa tendência abstrata sofria duas
influências: proibição do uso do nome de Deus e a luta contra os antropomorfismos.
Como conseqüência, desaparecem as paixões do Deus do Antigo Testamento e a
unidade abstrata é ressaltada. Os filósofos gregos, que haviam desenvolvido a mesma abstração radical
a respeito de Deus, e os universalistas judeus uniam-se nessa idéia de Deus.
Essa tarefa unificadora foi realiza particularmente por Filon de Alexandria.
O Surgimento de Seres Mediadores.
Quando Deus fica abstrato, contudo,
não basta a hipostatização de algumas de suas qualidades, como céu, altura,
glória, etc. Começaram a aparecer seres mediadores entre Deus e os homens. No período
intertestamentário, esses seres tornaram-se cada vez mais importantes para a
piedade pessoal.
Em primeiro lugar, vieram
os anjos, deuses e deusas deteriorados do paganismo de então. Quando o perigo
do politeísmo não mais existia, como no judaísmo posterior, os anjos podiam
reaparecer sem qualquer ameaça. Mesmo assim, no entanto, o Novo Testamento tem consciência do
problema e adverte contra o culto aos anjos.
A idéia do Messias. (termos que vão se referir a Cristo ou Messias)
O Messias tornara-se um
ser transcendental, o rei do paraíso. No livro de Daniel, dependente da
religião persa, o Messias é também chamado de “Filho do homem” destinado a
julgar o mundo. Nesse livro, o termo refere-se a Israel, mais tarde veio a
representar a figura do “homem vindo de cima” (Cl 1.15).
Os nomes de Deus. (Prologo de João é isso)
Aumentam e se tornam quase
pessoas vivas. A mais importante dessas personificações é a Sabedoria de Deus,
já presente no Antigo Testamento. A sabedoria criara o mundo, aparecera nele, e
retornara ao céu por não ter encontrado onde habitar entre os homens. O prólogo
do quarto Evangelho desenvolve idéia semelhante.
O Shekinah. (tornou-se forte com a adoração dos santos padres)
Representava outro desses
poderes entre Deus e os seres humanos, significando a habitação de Deus na
terra. Lembremo-nos de me,mra,
a Palavra de Deus, que se tornou decisiva no quarto Evangelho. A importância do
Lo,goj aumentava por reunir a me,mra judaica com o lo,goj filosófico
dos gregos.
Em
Filon, esse Logos
é o protogenh,j
u`io,j qeou, (o filho de Deus unigênito). Esses seres
mediadores entre o Deus altíssimo e os seres humanos substituíam até certo
ponto o caráter imediato das relações com Deus. Como no cristianismo,
principalmente católico romano, a idéia de um Deus transcendente tornava-se
aceitável à mentalidade popular graças à introdução dos santos na piedade
popular prática.
Os
demônios.(domínio de oposição a Deus)
Entre
Deus e os seres humanos surge um outro mundo de seres poderosos, os demônios.
Haviam anjos bons e maus. Os anjos maus não eram apenas agentes de
tentação e castigo sob a direção de Deus, mas também um domínio de poder em
oposição a Deus. A conversa de Jesus com os fariseus sobre o
poder divino e o poder demoníaco em relação ao exorcismo deixa entrever
claramente essa idéia.
A
crença nos demônios permeava a vida cotidiana daquele tempo e era objeto da
mais alta especulação. Embora se possa perceber certo dualismo nessas idéias,
jamais chegou à condição de dualismo ontológico. Não se caiu desse dualismo
ontológico, mesmo com a introdução de idéias procedentes da Pérsia, por meio do
judaísmo, incluindo-se a demonologia da religião persa, na qual os demônios têm
o mesmo status dos deuses. Todos
os poderes diabólicos derivam seu poder de Deus, não se mantêm por si mesmos. Assim,
os anjos maus foram criados bons, mas depois da queda tornaram-se maus e por
isso são responsáveis e sujeitos ao castigo. Não foram criados por algum ser
antidivino. Estamos, pois, diante do primeiro dogma antipagão.
A elevação do futuro
No
período apocalíptico posterior da história judaica, a história mundial se
dividia em duas épocas: 1) a;ion ou´´´-toj, a era na qual
estamos vivendo; 2) a;ion me,llwn, a esperada era
vindoura. A presente época era considerada muito pessimisticamente, enquanto se
esperava a era vindoura com êxtase.
A
era vindoura não se identificava apenas com certas idéias políticas,
ultrapassava, por exemplo, as esperanças políticas dos macabeus. Não se
limitava a repetir a mensagem profética; a mensagem profética era muito mais
histórica e intramundana. As idéias apocalípticas eram cosmológicas. O cosmos
todo participava nesses dois a;eonj.
A
Era atual era controlada por forças demoníacas, o mundo e até mesmo a natureza
envelheciam e passavam. Em parte era porque os seres humanos haviam se
submetido às forças demoníacas e desobedeceram a lei. A queda de Adão produzira
o destino universal da morte. A queda era confirmada por todos os indivíduos
por meio de seu pecado pessoal. O nosso tempo estava marcado por destino
trágico, não obstante a responsabilidade dos indivíduos por ele.
A piedade da lei acima da piedade do culto.
A
sinagoga se desenvolve ao lado do templo numa espécie de escola religiosa.
Passa a ser a forma determinante do desenvolvimento da vida religiosa. Não se
considerava a lei negativamente como estamos acostumados a fazer hoje em dia;
para os judeus ela era uma dádiva e uma alegria. A lei era eterna, presente
constantemente em Deus e pré-existente da mesma forma como, na teologia cristã,
Jesus seria pré-existente. Os conteúdos da lei tinham haver com a
organização total da vida, relacionando-se até mesmo com minúcias, neste
detalhe, todos os momentos da vida submetiam-se a Deus.
Era
essa a idéia profunda do legalismo dos fariseus que Jesus atacou com tanto
vigor. É que esse legalismo acabava se transformando em insuportável fardo. Há
sempre duas possibilidades na vida religiosa quando ela impinge sobre o
pensamento e a ação fardos intoleráveis: Um “ajeitamento”, seguido pela
maioria, neste caso, procura-se reduzir o peso do fardo de modo a ficar mais
leve; O caminho do desespero, seguido por Paulo, Agostinho e Lutero. Em IV
Esdras há a seguinte passagem: “Nós que recebemos a lei nos perderemos por
causa de nossos pecados, mas a lei jamais se perderá”. Esse versículo expressa
a mesma atitude presente nos escritos de Paulo e dominante no judaísmo do
período entre os Testamentos. Muitas dessas idéias marcaram o Novo Testamento.