Estudo Bíblico sobre as duas naturezas de Jesus Cristo
O Eutiquianismo.
É
a quarta e última das heresias antigas concernentes à pessoa de Jesus Cristo:
Ário negava a verdadeira deidade; Apolinário negava sua plena humanidade;
Nestório dividiu Jesus em duas pessoas: Deus, o Verbo e Jesus, o homem; Êutico
foi acusado de confundir suas duas naturezas (deidade e humanidade) em uma e
criar uma mistura. Se tinta amarela é misturada com azul, o resultado é verde,
que não é uma nem outra; Se um cavalo é cruzado com um asno, o resultado é uma
mula, que não é um nem outro; Assim também, Êutico foi acusado de fazer de
Jesus Cristo uma mistura de deidade e humanidade, um tertium
bocado, ou “uma terceira coisa”, que não é nem Deus nem
homem, mas um tipo híbrido.
Êutico
era um ancião e monge altamente respeitado em Constaninopla. Em 448 ele foi
acusado de heresia e o bispo Flaviano, foi forçado a colocá-lo em julgamento. O
resultado foi sua condenação por confundir as duas naturezas de Jesus Cristo,
embora tenha sido argumentado que era o próprio Êutico que estava confuso e
atrapalhado, ao invés de obstinadamente herético.
O ataque de Leão, o Grande.
Leão
foi bispo de Roma de 440 a 461 e foi um dos maiores papas, ele é freqüentemente
chamado de “Leão, o Grande”. Era uma pessoa formidável. Em 462 persuadiu
pessoalmente Átila, o Huno, a desistir de atacar Roma, conseguiu restringir a
destruição e a matança. É famoso especialmente pelo seu ensino sobre a pessoa
de Jesus Cristo e o papado romano.
O
ensino de Leão sobre Cristo reúne o ensino ocidental sobre Cristologia da sua
época. Sua compreensão da pessoa de Jesus Cristo é baseada na salvação. Para
nos salvar, Jesus Cristo precisava ser tanto Deus como homem. Sua humanidade
precisava ser “completa naquilo que pertence a nós”, embora sem pecado. Segue
portanto que ele tem duas naturezas deidade e humanidade. Contra Êutico, Leão
enfatizou que “cada natureza retém suas próprias propriedades sem prejuízo”:
Jesus sentiu fome e todavia alimentou cinco mil; aquele era humano, este o
divino; Como homem pranteou por seu amigo Lázaro, como Deus ressuscitou dos
mortos. Ele é uma pessoa, mas isto não deve ser mal interpretado de tal modo a
confundir a distinção entre as naturezas, não deve haver nenhum terceiro bocado. Foi o Filho de Deus, a segunda pessoa da
Trindade, que nasceu de Maria: “O impassível Deus não desprezou o tornar-se
homem passível”.
O Concílio de Calcedônia.
Foi
convocado pelo Imperador Marciano para resolver o caso de Êutico, que já havia
sido condenado por Leão. O Concílio reuniu-se em Calcedônia em outubro de 451.
Foi visto como o quarto dos concílios gerais ecumênicos.
O
Concílio restaurou aqueles bispos antioquianos condenados no “Sínodo de Ladrão”
em Éfeso (449). Êutico e Dióscoro de Alexandria foram depostos. Os credos dos
Concílios de Nicéia e Constantinopla, das duas cartas de Cirilo (uma das quais
incluía a Fórmula da Conciliação)
e o Volume de Leão foram todos lidos e aprovados. Os
bispos queriam parar por aqui, mas o imperador estava determinado a ter uma
confissão de fé para unir o império, assim nasceu a Definição Calcedoniana.
A
Definição Calcedoniana cita os Credos de Nicéia e de Constantinopla. Estes
deveriam ter sido suficientes para o estabelecimento da ortodoxia, mas
infelizmente o ensino de Nestório e o de Êutico mostrou que mais era
necessário. Duas cartas de Cirilo foram recebidas como uma refutação ao
nestorianismo, e o Volume de Leão foi recebido como antídoto para o
eutiquianismo. A seção chave reza:
[O Sínodo] opõe-se
àqueles que fendem o mistério da encarnação em uma dualidade de Filhos; ele
expulsa do sacerdócio aqueles que ousam dizer que a Divindade do Unigênito é
passível/capaz de sofrer; ele resiste àqueles que imaginam uma mistura ou
confusão das duas naturezas de Cristo; ele impede aqueles que supõem que a
“forma de um servo” que ele tomou de nós era uma substância celestial ou alguma
outra; e ele anatematiza aqueles que imaginam que o Senhor tinha duas naturezas
antes de sua união, mas depois apenas uma.
Seguindo os santos pais,
nós confessamos com uma voz que o único Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, é
perfeito em Divindade e perfeito em humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente
homem, que ele tem uma alma racional e um corpo. Ele é de uma substância com o
Pai como Deus, ele é também de uma substância conosco como homem. Ele é como
nós em todas as coisas exceto no pecado. Ele foi gerado de seu Pai antes de
todas as eras como Deus, mas nestes últimos dias e para nossa salvação, ele
nasceu de Maria a virgem, a theotokos, como homem. Este um e o mesmo Cristo,
Filho, Senhor, Unigênito é feito conhecido em duas naturezas sem confusão, sem
mudança, sem divisão, sem separação. A distinção das naturezas é de forma
alguma removida por sua união, mas as propriedades distintivas de cada natureza
são preservadas unidas em uma pessoa e em uma hipóstase. Elas não são separadas
nem dividas em duas pessoas, mas elas formam um e o mesmo Filho, Unigênito,
Deus, Verbo, Senhor Jesus Cristo, assim como os profetas de outrora têm falado
a respeito dele e como o próprio Senhor Jesus Cristo tem nos ensinado e como o
credo dos pais nos tem entregue.
Calcedônia não
estabelece uma cristologia normativa, ela fixa os limites dentro dos quais uma
cristologia ortodoxa deve permanecer. A Definição apresenta quatro pontos em
oposição às quatro heresias antigas: Em Jesus Cristo, verdadeira deidade
(contra Ário) e plena humanidade (contra Apolinário) são indivisivelmente
unidas em uma pessoa (contra Nestório), sem ser confundidas (contra Êutico).
Seu ensino pode ser resumido na frase “uma pessoa em duas naturezas”.
Qual a diferença
entre “pessoa” e “natureza”? Os dois termos podem ser melhor considerados conforme
as respostas a duas questões diferentes: a) Quem foi Jesus Cristo? A única pessoa de Deus,
o Verbo, feito carne; O que ele foi? Verdadeiramente divino e
verdadeiramente humano (duas naturezas). Expressando de outro modo, havia em
Jesus Cristo apenas um “eu”, apenas um “sujeito” de tudo que ele experimentou.
O único sujeito ou pessoa é Deus, o Verbo, não há mais ninguém (outra “pessoa”)
que foi o humano Jesus. O Verbo permaneceu Deus, com nenhuma redução de sua
deidade ou natureza divina, e todavia ele também assumiu tudo que pertence a
humanidade ou natureza humana. A Definição foi aceita totalmente pelo ocidente;
O Egito e outras áreas nunca aceitaram Calcedônia até os dias de hoje.
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